ColunistasRoberto Borges KerrSlider

O que esperar de 2021 quanto á gestão da sua carteira de investimentos

Desde 2019 o número de CPF’s registrados na B3, a bolsa de valores do Brasil, tem crescido muito. São novos investidores brasileiros entrando na Bolsa e um fluxo cada vez maior de recursos, que antes estavam alocados em ativos de baixo risco, especialmente cadernetas de poupança, mas também em ativos de renda fixa ou no Tesouro Direto, agora sendo alocados a carteiras de risco na bolsa de valores.

O ano de 2020 foi especialmente atípico, a bolsa começou bem o ano e no dia 23/01/2020 atingiu 119.528 pontos, um recorde histórico. Mas depois veio a pandemia e a bolsa despencou. Em 23/03/2020 atingiu 63.570 pontos, uma queda de 47%, quase 50%! Passado o susto inicial com a pandemia o mercado percebeu que a vida continuava, o auxílio emergencial sem dúvida ajudou, fazendo com que a economia, pelo menos em parte, voltasse a rodar. A bolsa se recuperou e o Ibovespa, surpreendendo a todos, em 8 de janeiro de 2021 atingiu 125.077 pontos, novo recorde histórico.

Interessante ainda é que em 2020 houve uma fuga de capitais estrangeiros da bolsa, que foram substituídos por investidores nacionais. O que explica esse fenômeno, em parte, tão surpreendente?

Sem dúvida a queda de juros reais teve enorme influência nesse fenômeno. O investidor comum percebeu que os juros reais (descontada a inflação) das cadernetas de poupança (o clássico investimento do investidor comum) e dos fundos de renda fixa estava negativo. Portanto, uma aplicação tradicional em renda fixa ou em caderneta de poupança, no máximo diminuiria a perda de poder aquisitivo causada pela inflação, não seria capaz de fazer o dinheiro do investidor crescer. Isso fez com que, mesmo o investidor comum, aquele da caderneta de poupança, que nunca pensou em investir em ações, mudasse seu comportamento e procurasse ativos de rendessem mais, mesmo que correndo um risco maior, que antes ele não estava acostumado a correr.

Em resumo o investidor percebeu que os tempos tinham mudado e que agora para ganhar alguma coisa seria necessário trocar de investimento e correr mais risco.

O retorno de qualquer ativo está sempre atrelado ao risco deste ativo. Há diversos tipos de risco, para citar alguns, risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez e risco operacional. O risco de mercado diz respeito à variação de preços do ativo, o risco de crédito diz respeito a uma das partes não cumprir o contrato e ficar inadimplente, risco de liquidez diz respeito à velocidade com que o investidor consegue converter seu ativo em dinheiro e risco operacional diz respeito a erros ou fraudes nas operações.

O conceito de risco atrelado ao retorno ficou mais evidente a partir do trabalho de Harry Markowitz, publicado em 1952, que deu origem à chamada Moderna Teoria de Carteiras. Markowitz teve a clareza de enxergar que o risco estava sempre presente e que as variações de preço e consequentemente dos retornos é que causava o risco para os investidores. Também conseguiu medir o risco, relacioná-lo ao retorno e indicar o que o investidor deve fazer para obter o máximo retorno, mas expondo-se simultaneamente ao menor risco possível. Nesta época Markowitz estava preocupado unicamente com o risco de mercado. Foi um trabalho brilhante e inovador que fez com que Harry Markowitz ganhasse o prêmio Nobel de economia em 1990. O trabalho de Markowitz foi um marco no estudo de Finanças e no modo como corretoras passaram a administrar suas carteiras. Apesar da sofisticação matemática este trabalho na realidade demonstra numericamente aquilo que as pessoas já intuíam há muito tempo, que a diversificação dos investimentos diminui o risco da carteira sem necessariamente diminuir seu retorno. Os antigos até tinham um ditado para isso e muitos de nós ouvimos de nossos avós: “não ponha todos os ovos na mesma cesta”! É exatamente isso que Markowitz demonstra em seu trabalho, um método para o investidor minimizar o risco enquanto maximiza o retorno esperado.

Geralmente, quando um investidor toma uma decisão de investimento, o capital investido é certo e conhecido, mas o retorno, não. O retorno é sempre uma expectativa de retorno (um retorno esperado) e aí é que está o risco.

Como mencionado no início deste texto, há um número crescente de pessoas almejando maiores retornos. Estes investidores, muitas vezes, não têm experiência em ativos de renda variável e não estão preparadas para a volatilidade desse mercado. Alguns desses investidores preferiram utilizar os préstimos de profissionais especializados para fazer a alocação de seus recursos neste momento da economia, que parece que veio para ficar, onde os ativos de baixo risco não rendem mais quase nada. Este serviço de alocação de investimentos e de montagem da carteira de investimento é denominada de Gestão da Carteira de Investimentos, pode ser feita pelo próprio investidor, mas geralmente é terceirizada para profissionais especializados.

Tudo leva a crer que 2021 será novamente um ano bom para a bolsa de valores e os investimentos de renda variável. Os investidores estrangeiros, que haviam debandado, estão voltando, o índice Ibovespa voltou ao seu patamar anterior repondo as perdas do ano e indicando possibilidade de voltar a crescer. Os juros básicos continuam baixo e os investimentos tradicionais de baixo risco continuam com juros reais negativos. Mesmo papéis de renda fixa que prometem rendimento de 150% ou até 200% do CDI têm encontrado dificuldade para superar a inflação. Basicamente, os fundamentos do mercado não mudaram do ano de 2020 para 2021. A crise fiscal pela qual passa o país e que foi agravada pela pandemia, continua uma ameaça. Por outro lado, a perspectiva de vacinação em massa da população, ainda que isso leve algum tempo, anima o mercado.

A autonomia do BC, que era esperada pelo mercado há 30 anos, finalmente foi aprovada, deixando o BC independente da política para atuar na defesa da moeda.

As IPO’s continuam fortes, saberemos o resultado da mais recente, CSN Mineração, na semana que vem. O preço do bookbuilding foi fechado hoje em R$8,50 por ação. A faixa de preço era de R$8,50 a R$11,50, mas os analistas já haviam antecipado que o preço estava caro e acabou sendo fechado no piso da faixa.

Ações de empresas de commodities, como a CSN mineração, Gerdau, Vale, são uma aposta do mercado para o ano de 2021. As ações de empresas de varejo, com forte departamento de vendas on-line, como Via Varejo e C&A também estão bem cotadas como um bom investimento em 2021. Algumas empresas como a Ambev, que costumavam ter desempenho excepcional e nos últimos meses decepcionaram os investidores, voltaram a prometer excelentes resultados e podem também ser uma aposta para 2021. Talvez alguma empresa de construção civil, que é um mercado que está aquecido, também possa ter bom desempenho em 2021, a Tenda não está fora do radar dos analistas.

Concluindo, uma gestão de carteira eficiente para 2021 necessariamente terá que contemplar ativos de renda variável em maior porcentagem, mas sempre é bom manter uma porcentagem em ativos de renda fixa, até para poder ter liquidez se for necessário.

Por Roberto B. Kerr

Relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fechar
Fechar