A sucessão no Ministério das Relações Exteriores do Brasil (posse do novo Ministro em 06/04/21) oferece expectativas sobre a condução da Política Externa Brasileira – PEB e que procuraremos analisar a seguir com mais detalhes.
Antes de entrarmos nas expectativas da nova gestão da PEB é importante visualizarmos o quadro existente para percebermos as virtudes e as necessidades não atendidas pela gestão que se encerrou:
- O Ministro Ernesto Araújo recebeu a missão de aproximar intensamente o governo brasileiro do governo norte-americano e conseguiu ampliar esse alinhamento, mas tais ações não marcaram positivamente a sua gestão;
- Um dos principais pontos que marcaram de forma insatisfatória a PEB mais alinhada aos Estados Unidos da América – EUA foi o seu afastamento do multilateralismo econômico (para os EUA, por ser o maior mercado consumidor mundial, tal ação não traz consequências significativas, porém, para o Brasil o distanciamento de parceiros fornecedores de tecnologia tem um significado marcante);
- Além disso, o retorno esperado pela PEB conduzida por Ernesto Araújo não teve significatividade, ou seja, ao invés de ampliação das relações político-econômicas o Brasil se distanciou de parceiros importantes como Alemanha, Reino Unido, Mercosul e colheu resultados desfavoráveis com ações protecionistas da gestão Trump.
Com o delineamento desse quadro existente, o novo Ministro Carlos França terá a enorme tarefa de reconstruir a PEB de acordo com a atual ordem mundial. Em seu discurso de posse o novo Ministro apontou três urgências que deverão orientar a sua gestão nos próximos dois anos:
- Urgência Sanitária: a busca de novas fontes de vacinas que permitam a produção localmente e que garantam suprimento permanente. Esta será a ação de mais curto prazo a ser executada;
- Urgência Econômica: promover uma maior abertura do país, visando principalmente a ampliação de mercados para produtos nacionais industrializados e obtendo transferência tecnológica dos países mais desenvolvidos. Esta será uma ação imediata, mas que deverá ter uma maturação em prazo mais longo;
- Urgência Ambiental: dada a convergência mundial para o desenvolvimento sustentável e o caráter emergencial do controle ambiental, a aproximação do Brasil com esses temas será uma ação que exigirá enorme esforço e que visará a recolocação do país nas mesas decisórias mundiais de grande repercussão. Esta será uma ação delicada, que exigirá uma política governamental integrada e muito esforço para convencimento de todos os envolvidos. Os resultados tendem a surgir em médio prazo e eventual demora em seu início adiará ainda mais a obtenção desses resultados.
Para que essas expectativas se transformem em realidade, entretanto, não basta a intenção ministerial/governamental. Tais urgências necessitam de muito diálogo, como bem frisou França, necessitando as seguintes providências:
- Busca de consenso multilateral para retorno das expectativas de ampliação de mercados, atração de investimentos estrangeiros (principalmente de características tecnológicas) e participação nas cadeias globais de produção (oferecendo e recebendo partes, peças e componentes que integrarão produtos finais mais competitivos);
- Reposicionamento do Mercosul, principalmente para finalizar a integração com a União Europeia através da sua aprovação nos respectivos parlamentos e dar início efetivo ao acordo comercial;
- Retomada do acordo nuclear com a Argentina, permitindo o avanço dos dois países no domínio estratégico desse importante componente para geração de energia não poluente e de rendimento mais elevado (evidente que há riscos para essa modalidade de geração, porém, a produção de energia nuclear já responde por 16% da energia elétrica mundial e possibilitou significativa redução da poluição ambiental).
Assim, as expectativas para o ministro França são as melhores possíveis e nos resta desejar-lhe muito sucesso e que os resultados sejam favoráveis em todos os sentidos. É o que merece todo o povo brasileiro!
São Paulo, 08/04/2021
Prof. Dr. Francisco Américo Cassano
Doutor em Ciências Sociais – concentração em Relações Internacionais, Professor e Pesquisador dos temas Internacionalização de Empresas e Relações Econômicas Internacionais.