Ademir LamenzaColunistasSlider

A CULTURA ESG PARA UMA NOVA POSTURA ESTRATÉGICA E DE GESTÃO DE NEGÓCIOS NAS ORGANIZAÇÕES

A sigla ESG é originária do termo em inglês Environmental, Social and Governance  ou, em português, ASG, referindo-se à Ambiental, Social e Governança.

ESG é o conceito que está diretamente relacionado ao mundo dos investimentos e é o equilíbrio dos aspectos ambientais, sociais e de governança na gestão dos negócios.

Este conceito tem diferentes aplicações e podem ser aplicados internamente ou analisados externamente, pois existem metas interdependentes na gestão das organizações.

Como surgiu a ESG? A sigla ESG surgiu primeiramente em uma iniciativa da ONU em 2004, em parceria com o Banco Mundial no relatório Who Cares Wins (“Ganha quem se importa”), de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

Portanto, foi percorrido um longo caminho até aqui. Não é possível afirmar com precisão onde está caminhada se iniciou: alguns apontam a década de 1970, na crise do petróleo; outros indicarão que foi na década de 1960, ou a  Internacional de Normalização (1947), Dr. Edward Deming, o papa da Qualidade em 1954 no Japão, e até Falconi no Brasil ou, ainda a confecção da Norma ISO 9000 em 1987 e, na sequência o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – PBQP em 1992, e ainda com os movimentos de responsabilidade social; e há os que irão mais longe e afirmarão que tudo se inicia na década de 1920, quando a Alemanha, por meio da Constituição de Weimar, declarou a função social da propriedade.

Organizações passaram da fase do capitalismo selvagem, com Milton Friedman afirmando que responsabilidade social era uma forma de gerar lucros para seus acionistas; para uma cultura filantrópica e de responsabilidade socioambiental, a qual também foi muito criticada. Como Michael Porter disse a responsabilidade social é, regra geral, excessivamente genérica, reativa e fragmentada, produto de ações dissociadas da estratégia da e por essa razão não produz impacto social importante, muito menos reforça a competitividade da corporação no longo prazo. E, finalmente, chegamos a era da sustentabilidade corporativa, a qual propõe uma agenda estratégica focada na busca pela competitividade – as organizações deixam de “agir sob pressão” e de submeter suas agendas socioambientais ao interesse de terceiros, identifica, os impactos negativos e os positivos, e passam a priorizar temas relacionados com o contexto do seu negócio, adotando uma pauta social capaz de combinar estratégia organizacional com bem-estar socioambiental.

Sob essa ótica, os aspectos econômicos devem ser transparentes e éticos com o objetivo de garantir a competitividade e a sustentabilidade das organizações.
A melhor maneira de determinar se uma é sustentável, é avaliar seu desempenho em relação aos indicadores ESG. Da mesma forma, a melhor maneira de tornar sua organização sustentável é aplicar os padrões ESG à sua estratégia de negócios.

De forma generalizada a ESG é apresentada na figura que segue.

 

 

 

 

E o que vem a ser cada letra do ESG?

 

E – ENVIRONMENTAL (= meio ambiente)

 

A letra E em ESG engloba tudo relacionado à proteção e redução de impactos que podem alterar negativamente o meio ambiente, como listado a seguir.

 

  • Diminuição do impacto ambiental, Poluição da água e do ar
  • Gestão hídrica
  • Eficiência energética
  • Biodiversidade
  • Gestão de resíduos – implementação de reciclagem.
  • Aquecimento global e pegada de carbono
  • Não ter relação com desmatamento ilegal.
  • Redução e compensação da emissão de gases estufa.
  • Uso dos recursos naturais de forma consciente.
  • Consumo responsável de água.
  • Adoção de critérios de logística reversa e a
  • Promoção e preservação da biodiversidade.

 

S – SOCIAL (= social)

 

A letra S do ESG avalia como a gerência a relação entre os diversos stakeholders envolvidos no processo como os colaboradores, investidores, fornecedores, governo, terceiro setor, comunidades do entorno e demais parceiros de negócios, ou seja, por toda a sociedade civil como descrito abaixo.

  • Comprometimento com os direitos humanos e leis trabalhistas
  • Relacionamento com o entorno
  • Satisfação do cliente
  • Proteção de dados e privacidade – LGPD
  • Engajamento e segurança de colaboradores e colaboradoras
  • Diversidade e equidade de gênero na equipe
  • Defesa aos Direitos humanos
  • Políticas de relações de trabalho.
  • Apoio a programas de inclusão e diversidade.
  • Capacidade de inovação.
  • Gestão voltada para diminuição dos riscos químicos.
  • Canal de comunicação para sugestão de melhorias.
  • Desenvolvimento de projetos sociais e o
  • Combate ao trabalho infantil e análogo à escravidão.

 

G – GOVERNANCE = GOVERNANÇA 

 

A letra G se refere à governança corporativa e administrativa de um negócio, abrange as esferas de liderança da , garantindo a idoneidade dos processos.

Neste pilar de governança, as organizações são avaliadas pelo grau de comprometimento com a transparência dos seus dados fiscais, pelo nível de comprometimento com práticas anticorrupção e práticas de enfrentamento corporativo ao racismo, sexismo e etarismo (discriminação por idade). Além disso, os itens abaixo completam os indicadores.

  •    Transparência
  •    Gestão interna – adoção de boas práticas administrativas
  •    Estrutura do comitê de auditoria
  •    Conduta corporativa de acordo com a ética
  •    Remuneração de executivos e com Relação a entidades governamentais
  • Composição e Independência do conselho administrativo.
  • Política de transparência de líderes.
  • Diversidade na composição do conselho.
  • Responsabilidade fiscal.
  • Atuação de Combate à corrupção.
  • Qualidade do comitê de auditoria.
  • Adoção de canal de denúncia.
  • Análise da integridade de fornecedores e colaboradores.
  • Critérios transparentes sobre remuneração e planos de carreira.

Nesse contexto, as desigualdades como sociais, raciais e de gênero, têm buscado ações para a promoção da igualdade e que protejam a subsistência das pessoas.

As certificações tornam-se relevantes para que o compromisso e as ações efetivas das organizações possam ser acompanhados a partir de indicadores e métricas, afinal sustentabilidade não inclui apenas a pauta ambiental. Temas “verdes”, relacionados ao meio ambiente e preservação de recursos naturais, são importantes, mas, há outras necessidades tão prementes quanto esta.

A Agenda 2030, plano global da ONU e amplamente divulgada pelo Pacto Global, firmado em 2015, a abordagem ESG vêm para chamar à responsabilidade organizações e lideranças para a variedade de pontos necessários para sustentar um negócio consciente e próspero.

As bases do desenvolvimento sustentável pela Agenda 2030 são:

  • Pessoas

Como podemos garantir um futuro digno e igualitário para todas as pessoas?

  • Planeta

Como proteger os recursos naturais da Terra para as gerações futuras?

  • Prosperidade

Como preparar um futuro de crescimento financeiro aliado à harmonia com a natureza?

  • Paz

Como promover uma cultura de paz, justiça e inclusão em nossa sociedade?

  • Parceria

Como encontrar pares e programar ações com impacto local e global?

 

Na figura abaixo que representa os Objetivos do Desenvolvimento Social – ODS abaixo contempla essa gama de situações, como:

 

Além dos ODS, a ESG busca na Sustentabilidade a intersecção das esferas Ambiental, Econômica e Social para fornecer embasamento às necessidades preconizadas em todo o seu trajeto, conforme figura abaixo.

Portanto, a ESG desmembrada será operacionalizada conforme a figura abaixo.

Já se foi o tempo no qual era necessário escolher entre ter resultados financeiros satisfatórios e construir um mundo mais sustentável. Hoje, é perfeitamente possível conciliar o Meio Ambiente, fazer o Social e a Governança Corporativa. Aderir ao ESG não é necessário apenas no sentido de garantir a clientela.

Para que se tenha uma boa reputação, não basta ter bons resultados financeiros. O cuidado com o meio ambiente, a responsabilidade social e boas práticas de governança corporativa são solicitadas pelos consumidores nos dias atuais, em especial os mais jovens.

As organizações que adotarem melhores práticas de gestão perceberão a obtenção de melhores resultados, como maior lucro, maior produtividade e melhora no valor de mercado ao longo do tempo.

O ESG já deixou de ser uma novidade no mercado empresarial.

No entanto, agora os olhos estão mais atentos às boas práticas sociais, ambientais e de governança corporativa – e mais ainda a quem não as faz.

Além disso, organizações comprometidas com a agenda ESG sofrem menos problemas trabalhistas e jurídicos, fraudes e ações por impacto ao meio ambiente.

Por serem consideradas menos seguras, organizações que não aplicam a agenda ESG acabam sendo a última opção para investidores.

Exemplos de quatro organizações brasileiras que investem em ESG e estão comprometidas com essa agenda.

  • É uma cooperativa de catadores de resíduos que têm boas práticas com relação aos funcionários e com o meio ambiente,
  • Natura,
  • Ambev e
  • Itaú Unibanco.

Atualmente no Brasil não temos um índice específico sobre as organizações que estão em estágios mais avançados em seus procedimentos de ESG. O que praticamos é um Benchmarking para homogeneizar cada segmento de atuação.

O Ranking do Índice de Sustentabilidade Organizacional 2021 (ISE B3 – Bolsa de Valores brasileira), criado em 2005, demonstra que na carteira de 2021, várias organizações entraram e saíram nesse ranking, conforme a listagem que segue:

AES Tiete, Petrobras, M. Dias Branco, Petrobras Distribuidora, Cosan, GPA, Marfrig, Bradesco, Itaú Unibanco, Suzano, BRF, Movida, BTG, Ecorodovias, Klabin, MRV, CCR, Natura, Cemig, Eletrobras e Neoenergia.

Quais são os benefícios de incluir os critérios ESG nos negócios?

 

  • Contar com uma gestão sólida para identificar os riscos socioambientais e reduzí-los para aumentar as oportunidades de negócios;
  • Criação de valor em cadeias produtivas sustentáveis, posicionando o compromisso da organização com o presente e o futuro;
  • Garantir a diversidade nos fóruns de governança e políticas anticorrupção;
  • Aumento da competitividade através de negócios mais eficientes e otimizados, tornando a organização sustentável;
  • Fortalecimento do posicionamento da organização que emprega à medida que as pessoas buscam cada vez mais propósito e valores fortes onde trabalham.

 

Hoje a ESG é um diferencial. Amanhã será um critério padrão.

As organizações visando atrair maiores investimentos e buscando resignificar seus papéis na sociedade iniciam um processo de resposta a essas demandas da sociedade que em última análise são positivas, tanto do ponto de vista dos negócios, como do ponto de vista social, ambiental e de governança.

Um exemplo entre muitos,  no Brasil foi o desastre de Brumadinho envolvendo a organização de mineração Vale. Ela perdeu R$ 70 bilhões de valor de mercado logo após o ocorrido.

Ainda que organização tenha recuperado as perdas no seu valor de mercado, muitos investidores preferem não investir em organizações que podem apresentar esses “sustos” em seus investimentos.

No passado quando o assunto de sustentabilidade organizacional começou a ter maior destaque nos debates da sociedade civil e o setor organizacional, muitas organizações de grande porte apenas realizavam medidas insuficientes e que foram consideradas greenwashing.

O greenwashing na sua concepção, entendido como “lavagem verde”, “pintando de verde” ou até “maquiagem verde”, tem a intenção de criar uma falsa aparência de sustentabilidade, induzindo o consumidor ao erro, uma vez que, ao comprar o produto ou serviço, ele acredita que está contribuindo para a causa ambiental, social ou de governança.

Como você tem atuado no dia a dia?

Neste contexto, há os resultados da pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2021: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor”, realizado pelo Instituto Akatu e GlobeScan. Eles apresentam os resultados da pesquisa.

Um estudo global de percepções do consumidor realizada globalmente, em 31 países, contou com mil entrevistados no Brasil, todos maiores de 18 anos.  Segue abaixo alguns dos principais resultados da pesquisa, e destaco os seguintes dados obtidos junto aos entrevistados:

Entre 2020 e 2021, houve uma queda generalizada na percepção de cumprimento das responsabilidades socioambientais de todos os setores produtivos no Brasil. Além disso, os setores registraram um saldo bem abaixo do que a média global.

→ 77% dos brasileiros afirmam que o que é bom para um indivíduo nem sempre é bom para o meio ambiente, contra 43% na média mundial

→ 86% dos brasileiros declaram desejar reduzir seu impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza, contra 73% da média mundial.

→ No Brasil, 8 em cada 10 respondentes vêem os eventos climáticos extremos como incomuns e 5 consideram que tais eventos são muito incomuns e alarmantes.

→ Quase 70% dos respondentes consideram que o Brasil deve ter um papel de liderança, com metas ambiciosas para combater as mudanças climáticas o mais rápido possível.

→ 48% dos respondentes se declaram negativamente afetados em sua saúde mental e bem-estar pela pandemia, provavelmente pela interrupção abrupta e mudança obrigatória no seu modo de viver. Além disso, 62% declaram ter a situação financeira afetada negativamente.

O resultado dessa transformação são organizações produzindo centenas de dados e muita informação sobre questões sociais e ambientais e investindo em  relatórios de sustentabilidade, como os do Global Reporting Initiative – GRI.

 

 

CONCLUSÃO

Como esse senso de consciência já vem há décadas por várias entidades reguladoras, temos um longo e infinito caminho a seguir para incutir nos gestores de todos os países do mundo e, de todas as organizações indistintamente introduzir as necessidades vitais para pensarmos exatamente nas gerações futuras para que a longevidade do planeta se perpetue e, obterão sim a melhor qualidade de vida, lazer e trabalho.

Relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fechar
Fechar