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COMPORTAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO NO 1º SEMESTRE DE 2021

Na nossa última live do semestre (em 05/07, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DSnvDyodybg), debatemos as perspectivas brasileiras para os próximos cinco anos e um dos principais pontos evidenciados foi que o comércio exterior seria uma forte alavanca para o crescimento econômico do país.

Para dispormos de maior certeza nesta afirmação, resolvemos fazer um estudo sobre o comportamento do comércio exterior brasileiro no primeiro semestre de 2021 e dividimos a análise em três eixos:

  • Eixo 1 – Balanço de pagamentos: verificação do fluxo de investimentos diretos – IED, do balanço de transações correntes e do volume das reservas brasileiras;
  • Eixo 2 – Balança comercial: observação do saldo acumulado no semestre, do desempenho em relação ao mesmo período do ano anterior e dos principais produtos de exportação e de importação;
  • Eixo 3 – Comportamento das exportações brasileiras: elaboração de comparativo entre 2021 e 2020, destacando os principais países de destino e respectivas participações sobre o total exportado, além do desempenho das nossas exportações nesses mercados.

Assim, no eixo 1 é possível se verificar, pela tabela 1,  que o fluxo de IED no Brasil teve um crescimento de 8,3% em comparação com o mesmo período de 2020, indicando uma maior confiança do capital estrangeiro no desempenho da economia brasileira. Ressalte-se que, em função da pandemia, esses investimentos caíram consideravelmente em relação a outros períodos e justificaria um maior crescimento no período atual já que a base comparativa é menor, face ao declínio da atividade econômica provocada pela pandemia. No entanto, o crescimento nominal em US$ mostra que houve realmente um significativo aumento no ingresso de IED.

 

Tabela 1 – Fluxo de Investimentos Estrangeiros destinados ao Brasil – US$ bilhões

1º semestre/2021 1º semestre/2020 Variação %
25,691 23,724 8,3

Fonte: Economia – Disponível em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/07/27/investimento-direto-no-pais-banco-central.htm.

 

Ainda no eixo 1 e relacionado com o balanço de transações correntes, ao compararmos o 1º semestre/21 com o 1º semestre/20, nota-se pelo gráfico 1 a seguir que houve um acentuado declínio do déficit em 2021, tanto em valores nominais como no parcela do PIB que esse déficit representa. Isto se deveu, principalmente, à elevação do superávit da balança comercial, como poderá ser verificado no Eixo 2.

 

Gráfico 1 – Balanço de Transações Correntes do Brasil – acumulado em 12 meses

Fonte: Banco Central do Brasil – Estatísticas do Setor Externo – Nota para a imprensa – 27/07/2021 – Disponível em https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticassetorexterno.

 

Quanto às reservas internacionais, o 1º semestre/21 registrou um acumulado de US$ 352,5 bilhões enquanto que nesse mesmo período de 2020 o acumulado foi de US$ 348,8 bilhões, ocorrendo um crescimento de 1,1 % no volume das reservas brasileiras (fonte: Reservas internacionais – Banco Central do Brasil – julho 2021, disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/reservasinternacionais). Cabe registrar, ainda, que o volume das reservas brasileiras em junho/21 é equivalente a 21,3 meses de importação (média mensal das importações brasileiras em 2021 foi igual a US$ 16,526 bilhões) e muito acima dos 12 meses recomendados pela comunidade financeira internacional (fonte: PELLEGRINI, J. A. Reservas internacionais: nível adequado, custo fiscal de carregamento e uso no resgate da dívida pública. Revista Brasileira de Comércio Exterior – RBCE, nº 134, jan/fev/mar 2018, p. 8-31, disponível em http://www.funcex.org.br/publicacoes/rbce/material/rbce/RBCE134_JosueAlfredoPelegrini.pdf).

No eixo 2 o saldo da balança comercial do 1º semestre/21 teve superávit de US$ 36,7 bilhões  e crescimento de 64,7 % em relação ao saldo do mesmo período de 2020. Cumpre destacar que enquanto as exportações cresceram 35% em 2021 as importações nesse mesmo período cresceram 26,5%, desempenhos que indicam um crescimento da atividade econômica do país, mas sem dependência significativa do setor externo (essa realidade deverá ficar mais evidente quando, em seguida, analisarmos os principais produtos exportados e importados).

Os principais produtos das exportações brasileiras no 1º semestre/21 mantiveram o comportamento de períodos anteriores, ou seja, soja, minério de ferro e óleos brutos totalizaram 50,8% do total exportado neste semestre e mostram duas realidades importantes para as autoridades brasileiras e para o meio empresarial: a economia brasileira apresenta significativa dependência do setor primário enquanto que o setor secundário, que é o setor que mais emprega e melhores salários paga, permanece com ociosidade preocupante.

Os principais produtos das importações brasileiras no 1º semestre/21 também mantiveram o comportamento de períodos anteriores, ou seja, petróleo, adubos/fertilizantes, medicamentos/produtos farmacêuticos e parte/peças de veículos totalizaram 19,26% do total importado neste semestre, sendo que este último item apresentou uma evolução animadora (de 2,32% na participação sobre total importado no 1º semestre/2020 passou para 3,30% do total importado nesse mesmo período de 2021) indicando uma possível retomada da indústria automobilística brasileira.

No eixo 3  o destaque principal ficou por conta do crescimento do total exportado no 1º semestre/21 em relação ao total exportado no 1º semestre/20 (US$ 135,9 bilhões em 2021 e US$ 100,7 bilhões em 2020). Tal destaque, entretanto, não se refere à conquista de novos mercados, mas, sim, à melhoria dos preços de nossos produtos (o que pode ser mais bem observado na tabela 2 a seguir).

 

Tabela 2 – Principais países de destino das exportações brasileiras – valores em US$ bilhões

Países de destino 1º sem./2021 1º sem./2020 Participação % no total exportado Variação % 2021/2020
2021 2020
China 46,747 33,939 34,4 33,7 37,7
Estados Unidos 13,317 10,021 9,8 10,0 32,9
União Europeia 17,850 14,162 13,1 14,1 26,0
Mercosul 7,918 5,442 5,8 5,4 45,5
Total principais destinos 85,832 63,564 63,2 63,1 35,0

Fonte: Balança Comercial Consolidada e Séries Históricas – Ministério da Economia – julho/2021

Disponível em https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/estatisticas/balanca-comercial-brasileira-acumulado-do-ano.

 

O conjunto dos principais países de destino das exportações brasileiras manteve o mesmo nível de participação, ou seja, 63% do total exportado pelo Brasil teve esse grupo como destino final tanto no 1º semestre/21 como no mesmo período de 2020.

Destaca-se, também, o aumento das exportações para o Mercosul (crescimento de 45,5% no valor exportado), indicando uma possível recuperação desse importante mercado para as exportações brasileiras. Com relação à participação dos principais países de destino no total exportado, o nível de participação teve variações mínimas tanto para mais como para menos, mantendo praticamente um nível idêntico nos dois períodos analisados, o que confirma a competitividade dos produtos brasileiros originários do setor primário.

Dessa forma, pelos números e observações apontadas, podemos concluir que o comércio exterior será uma importante alavanca para o crescimento econômico brasileiro e poderá garantir um melhor bem estar para a nossa população. Convém mencionar que o setor secundário, por ser o maior empregador e pagador de salários, necessita de rápida recuperação a fim de possibilitar a manutenção dessa característica e para garantir a elevação do nível de emprego à sociedade brasileira. É o que todos nós esperamos e para o que temos que contribuir!

 

São Paulo, 02/08/2021

Prof. Dr. Francisco Américo Cassano

Doutor em Ciências Sociais – concentração em Relações Internacionais, Professor e Pesquisador dos temas Internacionalização de Empresas e Relações Econômicas Internacionais.

 

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