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RETROSPECTIVA DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS EM 2019

A balança comercial brasileira em 2019, repetindo o que vem apresentando desde 2015 (em 2014 houve déficit de US$ 4,15 bilhões), foi superavitária em US$ 46,66 bilhões. Embora esse superávit sob o ponto de vista financeiro seja significativo, sob o ponto de vista econômico-comercial apresenta algumas inquietações:

  • Em termos econômicos, e por diversos fatores internos e externos, as exportações brasileiras tiveram uma queda de 6,4% em relação a 2018 enquanto que as importações brasileiras diminuíram 2,1%. No entanto, se a economia brasileira crescer em 2020 mais do que cresceu em 2019, as indústrias brasileiras deverão ampliar as suas atividades e, em função da maior competitividade existente no mercado externo, deverão se abastecer fortemente em outros mercados com o consequente aumento das importações brasileiras;
  • Sob o ponto de vista comercial, embora economicamente as indústrias brasileiras se mostrem otimistas quanto ao crescimento das atividades, a expectativa de crescimento das exportações brasileiras (em conjunto com o aumento das importações acima considerado) esbarra na inexpugnável obtenção da competitividade externa e impede que se projete um melhor desempenho dos produtos industrializados e a ampliação do superávit da balança comercial.

A fim de melhor se avaliar o quadro das exportações brasileiras (que, diante das inquietações acima observadas, demonstram ser forte impedimento para o crescimento/manutenção do superávit da balança comercial), nos parece oportuna uma retrospectiva das nossas exportações no ano recém-encerrado em comparação com as do período imediatamente anterior (2019 em relação a 2018). Assim, cabe iniciar-se pelo desempenho das exportações brasileiras em mercados que ocorreram diminuição de valor (nos mercados em que houve crescimento das exportações basta manter-se ou melhorar ainda mais o atual desempenho).

Tabela 1 – Exportações brasileiras para destinos que diminuíram em relação ao período anterior – Valores em US$ bilhões

PAÍS 2019 (A) 2018 (B) A – B
CHINA* 65,32 66,68 -1,36
UNIAO EUROPEIA 35,65 42,11 -6,46
MERCOSUL 14,66 20,83 -6,17
ÁFRICA 7,53 8,10 -0,57
AMÉRICA CENTRAL/CARIBE 4,56 5,67 -1,10

* Inclui Hong Kong e Macau

Fonte: Ministério de Economia – Estatísticas de Comércio Exterior – Séries Históricas – Blocos e Países. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/series-historicas

Os dados da Tabela 1 apontam que, para os mercados em que as exportações brasileiras diminuíram de valor, ocorreu uma diminuição de US$ 15,66 bilhões e tal constatação desperta o interesse sobre quais produtos diminuíram a participação nesses mercados.

Tabela 2 – Principais produtos brasileiros exportados para destinos que diminuíram de valor em relação ao período anterior – Valores em US$ bilhões

 

PRODUTO CHINA* UNIAO EUROPEIA MERCOSUL ÁFRICA AMÉRICA CENTRAL/CARIBE
2019 2018 2019 2018 2019 2018 2019 2018 2019 2018
Soja mesmo triturada 20,50 27,33 0,76 0,74
Óleos brutos de petróleo 15,40 14,39 1,05 2,40 0,76 1,24
Minérios de ferro e concentrados 13,10 10,93 0,34 0,42 0,26 0,45
Celulose 3,30 3,47 1,15 1,24
Milho em grãos 0,53 0,38
Carne bovina congelada, fresca ou refrigerada 3,41 2,55 0,15 0,18
Carne de frango congelada, fresca ou refrigerada, incluindo miúdos 1,51 1,13 0,17 0,25
Produtos manufaturados 0,17 0,26 0,54 0,39 0,82 0,98
Farelo e resíduos da extração de óleo de soja 1,82 1,87
Café cru em grão 1,84 1,84
TOTAL 57,39 59,80 6,34 7,06 1,84 1,69 0,17 0,25

* Inclui Hong Kong e Macau

Fonte: Ministério de Economia – Balança comercial brasileira: Acumulado do ano – Exportação: 2019/2018 – Principais países e produtos: acumulado. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/balanca-comercial-brasileira-acumulado-do-ano.

 

A Tabela 2 apresenta os 10 principais produtos nacionais que foram exportados para mercados nos quais houve queda das exportações brasileiras e, através dela, percebe-se que a Soja mesmo triturada registrou a maior queda de valor e especificamente no mercado chinês. No entanto, essa queda significativa, ocorrida no mercado chinês com esse produto e que poderia responder por boa parte da queda de US$ 15,66 bilhões dos 10 principais produtos exportados, foi parcialmente compensada com aumentos de valor nos demais produtos desse conjunto.

Com relação a esses demais produtos do grupo analisado e exportados para mercados com queda de valor, ocorreram aumentos em alguns deles e quedas inexpressivas que não poderiam justificar a diminuição do total das exportações brasileiras. A linha TOTAL da Tabela 2 mostra que não foram os 10 principais produtos exportados que mais repercutiram na queda das exportações brasileiras em 2019 (entre esses produtos ocorreu uma queda de US$ 3,21 bilhões, sendo mais intensa na China com US$ 2,41 bilhões).

Em síntese, a queda nas exportações dos 10 principais produtos brasileiros exportados para os mercados constantes da Tabela 1 corresponde apenas a pouco mais de 20% da queda total e indica que outros produtos com menor participação na pauta ou, ainda, com ocorrências mercadológicas diversas, influenciaram com mais intensidade a queda de nossas exportações em 2019.

Por outro lado, se considerarmos que os mercados identificados na Tabela 1 são os principais mercados para as exportações brasileiras, e, que os 10 principais produtos brasileiros exportados para esses mercados são em sua maioria commodities ou produtos do setor primário, a falta de competitividade da indústria brasileira, apontada como uma inquietação neste texto, praticamente se anulará com a análise efetuada nesta retrospectiva.

Necessário se faz, entretanto, uma ressalva sobre a inquietante ocorrência de fatos neste início de 2020 que tanto podem favorecer (o acordo Estados Unidos e China, que poderá incrementar o comércio internacional, é um desses fatos) como desfavorecer (a epidemia do Coronavírus iniciada na China e que poderá se alastrar rapidamente, com repercussão direta no comércio internacional, é outro importante fato) as exportações brasileiras.

Finalizando, e caso o comércio internacional se mantenha estabilizado, as inquietações citadas nesta retrospectiva podem se transformar e resultar em crescimento das exportações brasileiras em 2020.


Francisco Cassano

Francisco Américo Cassano é doutor em Ciências Sociais e Relações Internacionais, professor pesquisador de Relações e Negócios Internacionais na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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