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COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO COM O BRICS

Em 2001, o jornalista norte-americano Jim O´Neill intitulou o Brasil, a Rússia, a Índia e a China como países emergentes e criou o acrônimo BRIC para designá-los como futuras potências econômicas e atrativas para investimentos nas mais diversas áreas de atividade.

Em 2006, os chanceleres de Brasil, Rússia, Índia e China realizaram uma reunião, de caráter informal, que marcou o início de uma cooperação entre esses países em áreas de atividade com bom potencial para realização de negócios. A partir de 2009, o que antes era uma reunião de trabalho entre chanceleres passou a se denominar Cúpula, encontro anual entre os Chefes de Estado ou de Governo que, em 2011, incluiu a África do Sul e o acrônimo inicial passou à denominação BRICS.

Para 2019 está agendada a XI Cúpula, em Brasília, que terá como tema: BRICS: crescimento econômico para um futuro inovador (informações acima foram obtidas em http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/mecanismos-inter-regionais/3672-brics).

Como o tema da cúpula de Brasília enfocará o crescimento econômico com base na inovação, e dada a representatividade do grupo em termos econômicos, despertou-se o interesse para o comércio exterior brasileiro com esses países a fim de se verificar as vantagens (ou não) de ampliação das relações comerciais.

Tendo em vista que as exportações têm maior representatividade para o país, o estudo enfocará primeiramente o comportamento das exportações brasileiras nos últimos 10 anos (2009 a 2018).

                        PAÍS

ANO

RÚSSIA ÍNDIA CHINA ÁFICA DO SUL
2018 1.654,85 3.908,94 63.929,55 362,47
2017 2.736,53 4.657,33 47.488,45 1.509,61
2016 2.299,89 3.161,43 35.133,31 1.397,02
2015 2.463,24 3.617,20 35.549,53 1.353,28
2014 3.821,01 4.787,81 40.611,88 1.225,27
2013 2.972,65 3.129,78 46.023,19 1.835,42
2012 3.139,76 5.575,57 41.225,81 1.764,25
2011 4.210,90 3.200,38 44.304,61 1.679,47
2010 4.147,69 3.490,42 30.747,55 1.309,31
2009 2.865,00 3.414,50 20.994,92 1.259,10
TOTAL 30.311,54 38.943,37 406.008,81 13.695,22

Tabela 1 – Exportações brasileiras para países do BRICS – Valor FOB em US$ milhões

Fonte: Ministério de Economia – Estatísticas de Comércio Exterior – Sistemas – Comex Stat – Exportação e Importação Geral. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral.

 

A tabela 1 mostra que, a partir de 2009, as exportações brasileiras se ampliaram com Índia e China, e, declinaram com a Rússia e a África do Sul.  Considerando-se que a média das exportações brasileiras para a Índia, nesses dez anos, foi em torno de US$ 3,89 bilhões, o fato de em alguns momentos terem superado essa média e sem continuidade, não significa melhoria do ritmo nos negócios com esse país e, sim, oscilações mercadológicas naturais. Com a Rússia e África do Sul ocorreu algo parecido, mas em sentido inverso: a média das exportações para a Rússia e para a África do Sul foi, respectivamente, de US$ 3,03 e US$ 1,37 bilhões, com queda significativa em 2018 (principalmente com a África do Sul) e que prenuncia desequilíbrio por perda de mercado ou dificuldade econômica cíclica local. A China, por sua vez, é o principal mercado para produtos brasileiros nesse período analisado e os valores exportados mostram a evolução dos negócios brasileiros com esse pais (de 13,7% do total das exportações brasileiras em 2009 para 26,7% em 2018).

                        PAÍS

ANO

RÚSSIA ÍNDIA CHINA ÁFICA DO SUL
2018 3.373,74 3.662,82 34.730,03 662,94
2017 2.644,88 2.945,67 27.321,50 488,63
2016 2.020,64 2.482,18 23.357,53 336,28
2015 2.220,84 4.289,50 30.714,59 644,60
2014 3.013,43 6.640,22 37.338,63 731,85
2013 2.675,97 6.357,22 37.326,09 719,60
2012 2.790,20 5.042,84 34.244,85 848,62
2011 2.943,78 6.078,31 32.786,47 911,72
2010 1.910,35 4.243,15 25.591,46 753,43
2009 1.412,03 2.191,32 15.904,57 433,22
TOTAL 25.005,86 43.933,23 299.315,73 6.530,90

Tabela 2 – Importações brasileiras de países do BRICS – Valor FOB em US$ milhões

Fonte: Ministério de Economia – Estatísticas de Comércio Exterior – Sistemas – Comex Stat – Exportação e Importação Geral. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral.

 

No que se refere às importações, percebe-se pela tabela 2 que, no período analisado, ocorreu um movimento uniforme com as importações brasileiras, ou seja, aumento dos negócios brasileiros com todos os países do BRICS. Ressalte-se, entretanto, dois aspectos importantes: o aumento significativo das importações brasileiras originárias da China (de 12,4% do total das exportações brasileiras em 2009 para 19,2% em 2018) e o saldo da balança comercial brasileira ser positivo com a China, a Índia e a África do Sul (exceção é a Rússia, muito mais pela diminuição das exportações brasileiras – fato que já foi abordado acima).

Conclui-se, portanto, que as relações comerciais brasileiras com o BRICS se desenvolvem de forma natural, ou seja, seriam as mesmas independentemente da cooperação iniciada em 2009. Destaque especial merece o comércio com a China, que se transformou em principal parceiro de negócios para o Brasil (corrente de comércio em torno de US$ 100 bilhões em 2018) e que deverá assim permanecer por algum tempo.

 


Francisco Cassano

Francisco Américo Cassano é doutor em Ciências Sociais e Relações Internacionais, professor pesquisador de Relações e Negócios Internacionais na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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