O relatório OCDE Business and Finance Outlook 2019 (disponível em http://www.oecd.org/finance/more-efforts-needed-to-boost-trust-in-business-and-finance.htm) recomenda a necessidade dos Policy Makers se esforçarem para obter o incremento da confiança do público nas finanças e nos negócios. Tal recomendação visa diminuir/eliminar os riscos de contágio caso o crescimento econômico e a rentabilidade financeira dos países não correspondam ao que foi planejado, ou, ainda, recuem para patamares imprevistos e/ou indesejados.
No caso brasileiro, o reduzido crescimento econômico previsto para 2019 e a constante elevação da taxa cambial (com a possível perda de confiança na moeda nacional) trazem exatamente aquilo que o relatório da OCDE recomenda que se evite: a desconfiança nos negócios.
Entretanto, a atividade do comércio exterior brasileiro permite uma constatação que pode servir de alento a todos, mais especificamente aos empresários que atuam no setor de alimentos. A tabela 1 mostra uma relação de produtos (ou grupo de produtos) do setor de alimentos cujas exportações cresceram nos oito primeiros meses de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. O total desses produtos exportados cresceu 11,33%, com destaque maior para café, pescados e carne em geral.
Tabela 1 – Exportações brasileiras de produtos do setor de alimentos – Período Janeiro-Agosto
PRODUTO | 2019 (A)
US$ MILHÕES |
2018 (B)
US$ MILHÕES |
A/B
% |
CARNE EM GERAL | 9.947,38 | 9.073,91 | 9,63 |
CAFÉ | 3.311,35 | 2.793,25 | 18,55 |
FRUTAS | 510,12 | 485,15 | 5,15 |
CACAU E SUAS PREPARAÇÕES | 216,14 | 211,08 | 2,40 |
PESCADOS | 163,14 | 142,86 | 14,20 |
LEITE E DERIVADOS | 35,46 | 33,75 | 5,07 |
TOTAL | 14.183,59 | 12.740,00 | 11,33 |
Fonte: Ministério da Economia – Estatísticas de Comércio Exterior – Séries Históricas – Grupos de Produtos: Exportação. Disponível em http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/series-historicas.
Embora os valores desses produtos representem apenas 10% do total das exportações brasileiras nesse período, esse crescimento tem significado importante se considerarmos que o total das exportações brasileiras no período janeiro-agosto de 2019 diminuiu 5,86% em relação ao mesmo período de 2018.
Dessa forma, ao mesmo tempo em que as exportações brasileiras de alimentos crescem e as exportações totais decrescem, percebe-se que o setor de alimentos possui demanda mundial significativa e que o Brasil tem produção suficiente para atender essa demanda. Tal constatação permite se afirmar que a eventual crise, que todos pretendem evitar, dificilmente atingirá o setor de alimentos em torno do mundo. Isso se presume em função dos países, em momentos de crise, reduzirem as suas importações de bens de capital e de consumo, mas raramente diminuem o seu consumo de alimentos e medicamentos.
Torna-se necessário difundir essa realidade para contagiar os empresários nacionais, fortalecendo a confiança nos negócios!
Francisco Américo Cassano é doutor em Ciências Sociais e Relações Internacionais, professor pesquisador de Relações e Negócios Internacionais na Universidade Presbiteriana Mackenzie.