TV, TE VI: o futuro é conectado
Por Rafael Pallarés, General Manager da Telaria no Brasil*
Fico pensando sobre Assis Chateaubriand em 1950, quando fundou o primeiro canal televisivo
no Brasil, a TV Tupi. Por muitas décadas o princípio “dessa televisão” era ser um receptor, ou
seja, uma caixa que transmite conteúdo vindo de outros lugares. Depois de alguns anos, os
nossos hábitos de audiência evoluíram, principalmente depois do advento do cabo nos anos
1970. Esse progresso não parou, lembro que passamos por alguns formatos, até chegar nos
modelos de distribuição de streaming e over-the-top (OTT, qualquer app ou website que
entrega conteúdo em streaming via internet), que também é conhecido por um termo genérico
para descrever o que a TV se tornou: TV avançada, que representa a convergência da TV
tradicional com o streaming de vídeo fornecido por plataformas OTT e TVs conectadas.
Essa evolução é tão evidente que o consumo de televisão com hora marcada está morto! Isso
mesmo, morto, pelo menos entre Millennials (nascidos após 2000) e a GenZ (os nativos digitais
nascidos em meados da década de 90), que em alguns poucos anos vão comandar o mercado
de consumo. Os jovens de 18 a 34 anos já dedicam 24% do tempo de consumo de TV nos
Estados Unidos a TVs conectadas, em comparação a 10% entre toda a população adulta, de
acordo com estudo recente da Nielsen. Eles esperam assistir o que eles querem, quando eles
querem e da forma que eles querem. Isso mesmo, estamos falando de streaming, de VOD
(vídeo por demanda).
E essa mudança de comportamento está recriando a indústria de mídia, produzindo novos
modelos de negócio. A Netflix, com seu investimento de US$ 8 bilhões, é o exemplo mais
proeminente, mas há outras dezenas de bilhões sendo investidos em produção de conteúdo
para streaming por empresas como Hulu, Amazon e Apple, além de fusões multibilionárias,
derretendo e recriando modelos que nascem da intersecção de mídia, ad tech e telco a se
sucederem. Disney e Fox, AT&T e Warner Media são casos recentes, e a evolução da Roku, de
um hardware para o consumo de vídeo para um ecossistema de conteúdo, distribuição e
publicidade segmentada é outro exemplo da transformação pela qual a indústria está
passando.
No Brasil, que tem enorme tradição com TV, a tendência não é diferente. E mais, a
receptividade a anúncios nos torna um mercado de alto potencial para um futuro AVOD (ad-
based video on demand). Um estudo recente da Telaria com painéis em cinco países, incluindo
o Brasil, mostra que somos o mercado que mais bem aceita a publicidade como uma troca para
acessar conteúdo de qualidade. A única coisa que não dá para esquecer é que Millennials e
GenZ toleram – até gostam da publicidade e a tratam como Conteúdo – mas desde que ela seja
relevante e altamente personalizada. O que é boa notícia, pois as TVs conectadas reúnem o
melhor dos dois mundos, a experiência lean back de consumo de vídeo associada às
possibilidades de segmentação do ambiente digital, com 100% de viewability e 95% de
completion rate (taxa de conclusão de vídeo), já que é non-skippable.
Então, quem diria, a TV está mais viva que nunca. O que muda é a forma de ver. O OTT cresceu
200% em audiência no mundo nos últimos três anos, e muitos produtores de conteúdo
premium estão surfando a onda. No Brasil, onde TV linear, tradicional, tem qualidade e um
alcance gigantesco ainda há muito espaço para convívio amigável entre o que foi e o que será.
Mas o ambiente para o streaming já existe, e as oportunidades para os produtores de conteúdo
de conquistar audiências e para as marcas de conversar com seus públicos já está aí. E você,
não vai aproveitar essa oportunidade? Recomendo você dar o play, não perca tempo.
*Rafael Pallarés, General Manager da Telaria no Brasil, é especialista em Ad-tech, Marketing e Mídia com foco em publicidade programática, streaming de vídeo e TVs Conectadas.