ColunistasRoberto Borges KerrSlider

COMO CUIDAR DAS FINANÇAS PESSOAIS

Quando se fala em finanças pessoais o primeiríssimo passo, antes de falar em investimento ou qualquer outro assunto, é saber como são nossas finanças pessoais.

Poucas pessoas fazem o controle de suas finanças pessoais e não sabem responder à pergunta: onde você gasta seu dinheiro?

A maioria das pessoas sabe razoavelmente quanto ganham, mas não sabem quanto gastam e porque gastam.

Essa é a primeira preocupação para organizar as finanças pessoais.

Como fazer isso?

Sugestão: anotar todos os gastos (saídas de dinheiro) em uma caderneta, separando as despesas por mês. Dificuldade: temos que estar sempre com nossa caderneta de gastos à mão para anotar todas as despesas que efetuamos em qualquer momento. Felizmente hoje há vários aplicativos de celular que nos ajudam a fazer essa tarefa. Essa tarefa deve tornar-se um hábito, porque os gastos têm sazonalidade (mudam conforme a época do ano) e precisamos saber quais serão os gastos de cada mês. Por exemplo, é sabido que no começo do ano precisamos pagar licenciamento e IPVA do veículo (para aqueles que possuem automóvel), IPTU do imóvel, matrícula da escola das crianças (para quem tem filhos em escola particular), e o famigerado Imposto de Renda, que geralmente começa a ser pago em abril, mas este ano, devido à pandemia, excepcionalmente só vencerá no fim de julho.

Sem saber onde gastamos nosso dinheiro, é impossível fazer qualquer planejamento. Se tivermos um ano de anotações mês a mês, no ano seguinte será fácil fazer os ajustes necessários. O fato de eu estar sugerindo que se anote os gastos sempre, não significa que desde o segundo mês das anotações não possamos já ter alguma informação sobre nossos gastos e isso é muito importante. Desenvolver o hábito de anotar as despesas não é natural requer um esforço de atitude e perseverança, mais ou menos como acontece com fazer exercícios físicos.

A segunda parte do nosso planejamento financeiro diz respeito às entradas de dinheiro. Eu mencionei anteriormente que a maioria das pessoas sabe quanto ganha, então essa informação é mais fácil de lançar em nossa caderneta, ou aplicativo. Mas isso não é sempre verdade. Há um número grande de pessoas no Brasil que são profissionais autônomos, ou pequenos empreendedores ou trabalhadores informais. Esse número de pessoas não é desprezível, o IGGE diz que são 33 milhões de trabalhadores, mas o cadastramento do auxílio emergencial no ano passado (2020) mostrou um contingente muito maior, de quase 50 milhões de pessoas. O número aqui não é tão importante para nossa conversa, porque cada um sabe se está ou não classificado nessa categoria. O que importa para nosso planejamento financeiro é que estas pessoas têm uma receita também variável e certa dificuldade em prever as entradas de dinheiro que terão a cada mês. Nossa caderneta ou aplicativo também nos ajudará nisso, pois anotaremos as entradas de dinheiro também, tendo assim um histórico de entradas que nos permitirá fazer uma estimativa de quanto ganhamos a cada mês, pode haver sazonalidade nas receitas também, mas com um histórico mais longo de anotações perceberemos isso também.

Agora já sabemos quanto ganhamos e quanto gastamos em média a cada mês. Ótimo! É só calcular a diferença entre receitas menos despesas para descobrir quanto está “sobrando” por mês. Infelizmente, esse resultado pode dar negativo, indicando que temos mais despesas do que receitas. Nesse caso precisamos agir com urgência sobre nosso orçamento para resolver o problema. Algumas dicas serão sugeridas a seguir.

Independentemente do resultado ser positivo ou negativo é hora de agir sobre as contas para corrigir ou melhorar o orçamento.

Primeiro alerta: há dívidas de qualquer natureza? Procure saldá-las. Não há juros no mercado que cheguem nem perto dos juros cobrados das dívidas, então a melhor aplicação financeira do mercado costuma ser sempre quitar dívidas. Se essas dívidas forem em cartão de crédito, ou cheque especial, então não dá para esperar nem mais um dia, é necessário quitá-las já, mesmo que para isso tenhamos que obter um empréstimo pessoal, ou um empréstimo consignado, ou um refinanciamento do veículo, porque os juros desses empréstimos são sempre menores que os do cartão ou do cheque. Renegociar dívidas em plantões do Serasa, SPC, Procon e Defensoria Pública deve ser levado em consideração.

Próximo passo, recalcule tudo: verifique as despesas que podem ser cortadas. Sempre há. Geralmente somos negligentes com as despesas e elas crescem como mato. No meio corporativo é comum dizer que custos crescem como unhas e é necessário cortá-los periodicamente. Isso vale para finanças pessoais e para nosso orçamento doméstico. Verifique se aqueles serviços de assinatura que você está pagando são necessários, corte os desnecessários. Será que é necessário, por exemplo, ter uma conta de e-mail paga, nos dias de hoje, com tantos provedores de e-mail bons e gratuitos? Será que estamos utilizando aquele serviço de streaming que assinamos? Será que estamos utilizando a academia cuja serviço pagamos? Reveja todas suas contas! Corte tudo que for possível. Chega de despesas desnecessárias. Será que todos os presentes que compramos eram mesmo imprescindíveis? Será que as idas ao restaurante eram mesmo necessárias? Rever velhos hábitos de consumo é obrigatório. A palavra de ordem é gastar menos, cortar mais. Lembrando a metáfora da unha, isso deve ser feito com frequência, não uma única vez. Cuidado com os gastos supérfluos, eles costumam ser os vilões de qualquer orçamento.

Próximo passo: às vezes é possível mexer nas receitas, buscando aumentar seus ganhos. Verifique se isto é possível, um trabalho extra por exemplo, como dirigir carro de aplicativo nas horas de folga pode ajudar a resolver o orçamento desequilibrado, pelo menos até ter as contas sob controle. Outra possibilidade, às vezes temos objetos acumulados ao longo do tempo que não usamos mais, computadores mais antigos, relógios, e que podem ser vendidos nesses sites de vendas on-line. As empresas fazem isso quando vendem ativos, Petrobrás está fazendo isso nesse momento, também podemos fazer o mesmo em nossas finanças pessoais, vender ativos que não nos são mais úteis. Isso pode gerar uma receita extra, ainda que momentaneamente, que ajudará a equilibrar o orçamento.

Imagine agora que você conseguiu tirar seu orçamento do sufoco. A tarefa não acabou. Primeiro, você pode melhorar o superavit do seu orçamento praticando sempre essas medidas. Segundo, você precisa se policiar para não voltar a ter problemas. Dica: evite compras! Sempre analise se aquilo que você está pensando em comprar é realmente necessário! Além disso, fuja dos parcelamentos, eles sempre envolvem juros, mesmo que a loja diga que está vendendo em dez vezes sem juros (os juros estão embutidos nas parcelas). Evite usar o cartão de crédito, dê preferência para o cartão de débito. Essa sugestão pode parecer paradoxal para um professor de finanças, mas o problema não é financeiro, é psicológico e de descontrole. A maioria das pessoas se descontrola com despesas a prazo, então é melhor não as fazer.

Agora que você está com seu orçamento controlado, tendo um superavit (sobra) de dinheiro todo mês, então é hora de pensar em investir. Crie o hábito de guardar dinheiro. A sugestão é estabelecer uma meta de poupança mensal a ser perseguida, um bom número para se pensar é 20% daquilo que você ganha ser poupado para investimento, ou para uma emergência. No início pode parecer difícil, mas depois que virar hábito poupar 20% do orçamento, ficará fácil. Você terá que viver com menos e gastar menos, mas será muito recompensado tendo seu dinheiro trabalhando para você.

A chave para se educar financeiramente é ter controle sobre suas finanças, cortar gastos sempre e investir.

O ano passado, 2020, foi um ano completamente atípico. A última pandemia que tivemos no mundo foi a gripe espanhola de 1918, ninguém estava preparado para o que aconteceu. Infelizmente, ainda estamos com exatamente os mesmos problemas de 2020 em 2021. A pandemia não passou e todos os efeitos negativos ainda estão aí. A pergunta: eventos desse tipo invalidam a ideia de orçamento e planejamento financeiro? A resposta é um estrondoso não. Muito ao contrário, é exatamente nessas horas, que ocorrem eventos extraordinários, que aqueles que se planejam conseguem superar melhor os problemas do que aqueles que nem sabem como está seu orçamento doméstico. Portanto, amigos, planejem. Vale a pena.

Poderíamos começar a tratar agora do que fazer com nossa poupança, onde investir. Mas esse é um assunto para outra LIVE. Obrigado por nos ouvirem.

 

Por Professor Roberto Borges Kerr

Relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fechar
Fechar